Pesquisadores revelam significado dos saltos dos golfinhos-rotadores de Fernando de Noronha; VÍDEO
16/03/2025
(Foto: Reprodução) Estudo foi feito pelo Projeto Golfinho Rotador e indica que mamíferos usam saltos como forma de comunicação. Golfinhos de Fernando de Noronha usam saltos para comunicação, aponta estudo
Os pesquisadores analisaram o balé dos golfinhos-rotadores de Fernando de Noronha e identificaram que os saltos representam uma forma de comunicação da espécie, que tem nome científico Stenella longirostris (veja vídeo acima).
Segundo dos estudiosos do Projeto Golfinho Rotador, que realizam pesquisa na arquipélago há 34 anos, esses mamíferos executam uma variedade de saltos e batidas de corpo na superfície, como rotações, piruetas, inversões e batidas de cauda e cabeça.
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Para muitos turistas os golfinhos estão se exibindo e interagindo com os visitantes. No entanto, estudos apontam que esses movimentos fazem parte de um elaborado sistema de comunicação entre os próprios animais.
“Cada tipo de salto ou batida gera padrões específicos de bolhas na água, funcionando como sinais visuais e sonoros para os demais membros do grupo. O modo como o golfinho retorna ao mar, seja de forma horizontal ou vertical, influencia diretamente a reação da coletividade”, informou o oceanógrafo José Martins da Silva Jr, coordenador do projeto.
O pesquisador afirmou que saltos horizontais, por exemplo, indicam deslocamento e fazem com que os demais sigam a direção indicada. Já os saltos verticais promovem a coesão do grupo, sendo comuns em momentos de alimentação e reprodução.
Golfinhos de Fernando de Noronha são estudados há mais de 30 anos
Projeto Golfinho Rotador/Divulgação
Liderança e estratégia
As pesquisas também revelaram que as atividades aéreas estão predominantemente associadas aos machos adultos, responsáveis por organizar o deslocamento do grupo e proteger os membros mais vulneráveis.
“Quase 88% dos saltos observados foram realizados por machos adultos, reforçando a hipótese de que esse comportamento está ligado à função de guarda e liderança dentro do grupo”, analisou José Martins.
Além disso, segundo Martins, há um padrão claro na execução desses movimentos ao longo do dia. Os pesquisadores mapearam seis períodos comportamentais distintos na Baía dos Golfinhos:
🐬Entrada;
🐬Organização;
🐬Primeiro turno de descanso;
🐬Reorganização;
🐬Segundo turno de descanso;
🐬 Saída.
Os momentos de maior atividade aérea ocorrem nas fases de organização e reorganização, quando os grupos ajustam suas formações e funções.
“Observamos um grande percentual de golfinhos fazendo sequências de atividades aéreas com rêmoras (um peixe que se fixa nos golfinhos). Esta constatação nos leva a acreditar que uma outra provável razão para os rotadores executarem atividades aéreas seria para retirar ou relocar a rêmora de seu corpo”, afirmou o oceanógrafo.
Outro comportamento aéreo observado em Fernando de Noronha por pesquisadores é quando o golfinho tira a parte da cabeça onde fica o olho e observa ao redor, tanto para uma vista panorâmica, como para observação de um barco.
Saltos dos golfinhos são observados por turistas
Projeto Golfinho Rotador/Divulgação
Nos deslocamentos, como na entrada e saída da baía ou no acompanhamento de embarcações, predominam os saltos horizontais. Já em situações de alimentação e reprodução, os movimentos verticais são mais frequentes.
Em momentos de ameaça, como a presença de tubarões, os golfinhos-rotadores adotam um deslocamento de alta velocidade com saltos contínuos, conhecido como "porpoising", para fugir rapidamente da área.
Análise de acrobacias
A análise detalhada de 8.566 atividades aéreas registradas na Baía dos Golfinhos revelou também dados sobre o comportamento dos golfinhos-rotadores. A grande maioria dos saltos, 97,54%, foi realizada por adultos, enquanto apenas 2,46% foram executados por filhotes.
Entre os padrões observados, 88,07% das atividades aéreas foram horizontais e 11,93% verticais, com a rotação sendo o movimento mais frequente, correspondendo a 37,80% das acrobacias registradas. Entre os filhotes, essa manobra foi ainda mais expressiva, representando 67,77% dos saltos, o que sugere que os mais jovens aprendem essa técnica desde cedo.
Outro dado relevante foi a interação dos golfinhos com embarcações turísticas: em 78,26% das ocasiões em que acompanhavam barcos, eles executavam saltos horizontais, indicando um possível padrão de resposta ao movimento das embarcações.
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Papel ecológico
Os estudos indicam que os golfinhos rotadores de Fernando de Noronha desempenham um papel importante no ecossistema marinho do arquipélago, indo muito além da atração para turistas e cientistas.
“Esses mamíferos marinhos atuam como predadores de pequenos peixes, lulas e camarões, contribuindo para o equilíbrio da cadeia alimentar marinha. Além disso, eles são presas importantes para tubarões, formando uma conexão vital na teia alimentar oceânica”, explicou José Marins.
Os golfinhos também auxiliam na manutenção dos recifes, ao descartarem restos da presas nas proximidades, fornecendo alimento para outros peixes recifais. Outra função ecológica é a de facilitadores da reprodução das rêmoras, peixes que dependem deles para alimentação.
A presença desses mamíferos atrai cientistas e turistas interessados na conservação marinha. Esses animais também geram renda para a comunidade local, impulsionam o ecoturismo e atividades náuticas sustentáveis, que têm se tornado cada vez mais importantes para a economia de Fernando de Noronha.
Conservação e futuro
Os estudiosos afiram que a intensa atividade turística em Fernando de Noronha, com um número crescente de visitantes e embarcações, representa um desafio para a conservação dos golfinhos-rotadores.
Os pesquisadores indicam que o turismo desordenado pode afetar o comportamento natural desses animais, gerar estresse e mudanças nos padrões de descanso e migração.
O total anual de visitantes em Noronha saltou de pouco mais de 85 mil, em 2015, para 131.503, em 2024.
Os dados são do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio). O limite de visitantes, definido acordo de gestão compartilhada firmado entre os governos estadual e federal, é de 132 mil visitantes ao ano.
“Projetos de monitoramento e regulamentação são essenciais para garantir que a convivência entre humanos e golfinhos aconteça de forma sustentável, preservando tanto o espetáculo natural quanto o equilíbrio ecológico do arquipélago. Afinal, entender a linguagem desses incríveis animais é o primeiro passo para protegê-los”, afirma José Martins.
O projeto realiza trabalhos de pesquisa e monitoramento dos golfinhos em Fernando de Noronha desde 1990 e conta com apoio do Programa Petrobras Socioambiental.
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