Caso Benício: entenda as restrições da Justiça que médica e técnica precisam cumprir após prisões negadas
17/12/2025
(Foto: Reprodução) Caso Benício: Justiça do AM suspende atuação de médica e técnica e rejeita prisão
A Justiça do Amazonas determinou, nesta terça-feira (16), as restrições que a médica Juliana Brasil Santos e a técnica de enfermagem Raíza Bentes Praia devem cumprir, após o Judiciário negar o pedido de prisão preventiva das duas. As medidas foram aplicadas na investigação da morte do menino Benício Xavier, de 6 anos. Entenda abaixo.
Segundo o juiz Fábio Olintho de Souza, a prisão preventiva deve ser aplicada apenas em casos excepcionais.
No caso, outras medidas foram consideradas suficientes para reduzir riscos, relacionados à atuação profissional das investigadas, especialmente no atendimento a pacientes, e não à ordem pública fora do trabalho.
Entre as principais restrições determinadas pela Justiça estão:
Suspensão do exercício profissional por 12 meses, com possibilidade de prorrogação;
Comparecimento mensal em juízo para informar e justificar atividades;
Proibição de se ausentar da Região Metropolitana de Manaus sem autorização judicial;
Distância mínima de 200 metros da família da vítima e das testemunhas.
O juiz também determinou que o Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CRM-AM), o Conselho Regional de Enfermagem do Amazonas (Coren-AM) e as secretarias estadual e municipal de saúde sejam comunicados oficialmente sobre a suspensão.
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Em nota, a família de Benício afirmou que considera as restrições necessárias e adequadas, destacando confiança de que as investigações seguirão nas esferas penal, cível e ético-profissional, garantindo a responsabilização dos envolvidos.
Médica usava carimbo de pediatria
Médica Juliana Brasil pode responder por falsidade ideológica ao usar carimbo de pediatria sem especialidade
Reprodução
A médica Juliana Brasil também pode responder pelos crimes de falsidade ideológica e uso de documento falso, além de homicídio doloso por dolo eventual. A informação foi confirmada pelo delegado Marcelo Martins.
Segundo o delegado, a Polícia Civil realizou uma análise sobre a forma como a médica se identificava profissionalmente. De acordo com a apuração, Juliana Brasil utilizava carimbo e assinaturas com referência à especialidade de pediatria, mesmo sem possuir o título oficialmente reconhecido.
“Nós realizamos um estudo a respeito da questão dela ter assinado a especialização pediatria no carimbo e ter assinado o nome dela com a expressão pediatria. Todas as regulamentações do Conselho Federal de Medicina indicam que o médico que não possui uma especialização não pode se identificar de nenhuma forma, com nenhuma referência a uma especialidade que ele não possui, e ela fez isso”, afirmou o delegado Marcelo Martins.
Ainda conforme o delegado, a conduta pode configurar dois crimes distintos.
“Então, isso configura o crime de falsidade ideológica e o uso de documento falso. A investigação prossegue agora também com relação a esses dois crimes, além do homicídio doloso por dolo eventual”, disse.
A Polícia Civil segue colhendo depoimentos e analisando documentos para esclarecer as circunstâncias do atendimento e eventuais responsabilidades criminais.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) permite que médicos obtenham o Título de Especialista em Pediatria (TEP) sem residência, por meio da aprovação na Prova de Título (TEP).
A defesa da médica afirmou à Rede Amazônica que, embora Juliana Brasil não tenha o título de especialista em pediatria, ela é formada desde 2019 e atuava legalmente na área, acumulando experiência prática. Os advogados acrescentaram que ela pretendia realizar a Prova de Título neste mês de dezembro.
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Segundo o pai, Bruno Freitas, o menino foi levado ao hospital com tosse seca e suspeita de laringite. Ele contou que a médica prescreveu lavagem nasal, soro, xarope e três doses de adrenalina intravenosa, 3 ml a cada 30 minutos.
A família disse ao g1 que chegou a questionar a técnica de enfermagem ao ver a prescrição. De acordo com Bruno, logo após a primeira aplicação, Benício apresentou piora súbita.
“Meu filho nunca tinha tomado adrenalina pela veia, só por nebulização. Nós perguntamos, e a técnica disse que também nunca tinha aplicado por via intravenosa. Falou que estava na prescrição e que ela ia fazer”, relatou o pai.
Após a reação, a equipe levou a criança para a sala vermelha, onde o quadro se agravou. A oxigenação caiu para cerca de 75%, e uma segunda médica foi acionada para iniciar o monitoramento cardíaco. Pouco depois, foi solicitado um leito de UTI, e Benício foi transferido no início da noite de sábado.
Na UTI, segundo o pai, o quadro piorou. A equipe informou que seria necessária a intubação, realizada por volta das 23h. Durante o procedimento, o menino sofreu as primeiras paradas cardíacas.
O pai relatou que o sangramento ocorreu porque a criança vomitou durante a intubação. Após as primeiras paradas, o estado de Benício continuou instável, com oscilações rápidas na oxigenação. Minutos depois, Benício apresentou nova piora e não respondeu às manobras de reanimação. Ele morreu às 2h55 do domingo.
Em nota, o Hospital Santa Júlia informou que uma médica e uma técnica de enfermagem foram afastadas de suas funções e realizou uma investigação interna pela Comissão de Óbito e Segurança do Paciente.
Infográfico - Caso Benício
Arte g1
Médica Juliana Brasil Santos e a Técnica de enfermagem Raiza Bentes Paiva investigadas no Caso Benício
Rede Amazônica